CLASSIFICAÇÃO:
Ficção científica, terror tipo B.
ROTEIRO:
Antonientt Terry Bryant e Vincenzo Natali.
DIREÇÃO:
Vincenzo Natali.
ANO:
2009.
De longe “Splice – a nova espécie” é
um dos melhores filmes de ficção científica mais intrigante que já assistir!
Não só pelo roteiro surpreendente e um primoroso conjunto de aspectos técnicos
que compõe um bom filme como também, ou principalmente pelas referências e alusões
que me pareceu ser feita a – Adão e Eva, a história da própria humanidade, como
também a um diverso conjunto de histórias, teorias e mitos que permeiam a
história da humanidade.
O filme a princípio conta a
história de um jovem casal de cientista que trabalham no ramo da engenharia
genética – dedicados a criação de espécime híbrido de animais para o
laboratório farmacêutico que após obterem sucesso com experimentos decidem por
conta própria dar seguimento a pesquisa com o uso do DNA humano.
O que de imediato começa por
chamar a atenção é que o filme passa a impressão de que a ciência nasce como
uma afronta a Deus, ou como se fazer ciência fosse brincar de ser Deus, e
aparentemente é o que fazem os dois cientistas, eles brincam de ser Deus e
criam uma nova criatura;
Outro ponto que se sobressalta
nesta brincadeira de ser Deus é que a mulher é sempre a parte da história que
incita, que ousa, que quer ir mais além, que tem a maior curiosidade e coragem
pra dar o primeiro passo e arrastar o homem na nova empreitada, é ela que convence
o homem a ir além com ela, a apoiá-la, a está junto. Tal como podemos observar
na história de “Adão e Eva”, é Eva que dá a primeira mordida no fruto proibido
e depois incita Adão a experimentar também, assim como no filme é Elza que dar
o primeiro passo para a criação do novo espécime convence Clive a está junto
com ela nesta nova experiência.
Ainda seguindo nesta analogia
entre o casal do filme com “Adão e Eva”, pode-se observar ainda que tal qual como
na história bíblica onde após comerem do fruto proibido o casal foge de Deus
para esconder o seu pecado, Elsa e Clive também escondem a sua criação da
sociedade (neste caso a sociedade assume o papel de Deus).
O casal segue o mesmo padrão de primeiro
modelo de família criado pela humanidade – pai, mãe e filho, e enquanto o homem
sai para trabalhar e manter o sustento da casa a mulher ocupa-se da educação da
prole.
A criatura criada por Elza e
Clive é uma criatura completamente híbrida – apresenta características de
animais que habitam na água, na terra, que voam... Já que foram utilizados
diferentes tipos de DNA, inclusive de seres humanos já que Elza usou o próprio
DNA na experiência, logo é uma criatura hiper adaptável a diferentes meios seja
aquático, terrestre e com capacidade para voar.
Outra analogia que o filme leva
a fazer é sobre as mudanças quanto ao comportamento e desenvolvimento afetivo
da criatura, que lembra algumas obras filosóficas e que talvez pareça ate
absurdas as analogias que se faça do filme a obras e teoria que faz lembrar. No
entanto, quanto as mudanças e transformações físicas e psíquicas pela qual
passa a criatura, bem como as relações que ela estabelece com os seus
criadores, fez-me lembrar logo de cara a Simone de Beauvair em seu livro “O
segundo sexo” onde de outro modo ela diz que” a mulher não nasce mulher, ela
torna-se mulher”, em “Splice” é possível superficialmente perceber isso com a
relação que ela desenvolve com Elza – observando os seus modos e jeito, a
relação que ela desenvolve com Clive... Em fim, a observação de coisas banais,
como se maquiar, entender o que os outros esperam de uma mocinha, tudo isso
pode ser observado e visualmente enfatizado com as transformações da criatura
em uma mulher atraente, conforme os padrões sociais.
Outro aspecto que não tem como
não fazer uma alusão, ou não lembrar é do “complexo de Édipo” descrito por
Freud, onde segundo este a menina apaixona-se pela figura paterna e o menino
pela figura materna. No filme, a criatura não só se apaixona por suas
referencias paterna materna como também mantém relação sexual com os dois –
quando na fase menina com a figura do pai, e obviamente na fase menino com a figura
da mãe.
Ainda sobre as mudanças físicas
da criatura, também leva a lembrar de certa teoria que diz que todo embrião ou
feto, sei lá, em seus primeiros tempos de gestação é sempre feminino, depois é
que se torna masculino. Embora de modo completamente outro, e em situação
distinta, é o que acontece com a criatura pós-cópula com Clive.
Voltando ainda a alusão que o
filme parece fazer ao “complexo de Édipo”, é preciso lembrar que a criatura já
transmutada em macho, faz sexo com a figura materna e mata a figura paterna, e
após o desenrolar de toda a trama Elza termina louca, tal qual Jocasta do mito
grego, fechando assim os pontos do complexo de Édipo.
Saindo do âmbito das alusões que
o filme leva a fazer, “Splice a nova espécie” nos faz pensar de fato, na
humanidade, no homem, no futuro de ambos e nos coloca questões pra refletir
tais como – o que de fato nos faz humano? O que de fato é o homem? O que é a
humanidade? Qual o futuro da humanidade? Será que o futuro do homem está
vinculado a manipulação genética, a sermos seres híbridos? Será que o homem por
meio da ciência será capaz de criar outra espécie superior a sua? Qual será o
futuro da humanidade? Creio que sejam justamente essas questões que o filme nos
leva a pensar, principalmente com ênfase no final, já que Elza termina grávida
da sua própria criatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário