“Não cometo esse erro
tão comum de julgar os outros por mim. Acredito de bom grado que o que está nos
outros possa divergir essencialmente daquilo que está em mim. Não obrigo
ninguém a agir como ajo e concebo mil e uma maneiras diferentes de viver; e,
contrariamente ao que ocorre em geral, espanta-me bem menos as diferenças entre
nós do que as semelhanças. Não imponho a outrem nem meu modo de vida nem meus
princípios; encaro-o tal qual é, sem estabelecer comparações.”
Céus! Parece que Montaigne escreveu estas
sentenças nos últimos dias, depois de uma fração de tempo desperdiçado em
frente à tv, ou enquanto consultava as notícias da semana e se deu conta que
espantosamente o que mais preocupava a sociedade fútil e imediatista em que
vivemos é picuinhas de pessoas tão irrelevantes quanto suas preocupações e
ansiedades com as relações sexuais e afetivas alheias, com o disse me disse
desgraçado e sem graça que parece está instalado entre homossexuais e heteros,
como se a coisa mais importante que temos pra discutir e nos preocupar fosse
com quem as pessoas vão dividir seus bens ou sua cama, seus órgãos, se casam,
se não casam... Oras até pouco tempo atrás pelo que me lembre o casamento era
visto como uma instituição falida! Hoje basicamente uma parte da sociedade
brasileira vive de querela em torno disso, perde-se tempo em espaços públicos, dinheiro
público discutindo picuinhas de entes mal resolvidos que se diz representar a
voz de minorias marginalizadas, quanto de fato parece representar inverter e
insuflar apenas preconceitos de categorias que deveria se impor por si mesmo,
pois são dignos pelo que são sem precisar provar ou arrogar-se do espaço
público que estão tendo pra inverter os preconceitos que a muito vem sofrendo,
num querelazinha improfícua, infame e de desrespeito ao povo que simploriamente
financia esse pardieiro que chamamos de governo, que chamamos de mídia e mais
sei lá o que... Deixando assim sem olhar o aumento do quilo de tomate que não
para de aumentar, o irrisório salário que nunca dá... E com sempre beneficiando
e dando cada ver mais voz a minorias – a minoria rica e bem sucedida classe dos
banqueiros e toda casta dos ricos brasileiros que fica cada vez mais enrica com
a descarada escalada da inflação, com o aumento abusivo dos impostos e como os
malditos fingimentos com a situação econômica e social do país.
Francamente, acho que muita gente
deveria de fato refletir um pouco sobre as sentenças supracitadas de Montaigne
como um bom começo, e quem sabe continuar refletindo com ele nesta outra – “aspiro
particularmente a que julguem cada qual como é, sem estabelecer paralelos com
modelos tirados do comum.”
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