quinta-feira, 19 de maio de 2016

“QUE HORAS ELA VOLTA”




Pelos comentários que ouvi e li antes de assistir o filme “que horas ela volta” pensara que o foco principal do filme era simplesmente mostrar que filho de pobre também pode escolher um curso em qualquer universidade e passar, enquanto filho de rico com todas as condições favoráveis, pode escolher o mesmo curso, a mesma universidade e reprovar... E de fato talvez ou certamente seja esse o foco principal do filme e que obviamente é bem apresentado.
No entanto, o ponto do filme que mais me chamou a atenção e me fez rememorar várias situações comuns que observara no contexto social da minha infância, adolescência e até mesmo nos dias atuais, é a parte que a ‘filha de Val’ joga na cara dela ‘que ainda lembra quando ela chegava ao Nordeste toda arrumada, cheia de presente, com dinheiro e parecia uma madame’ – descrevendo exatamente como acontecia com quase todas as moças que eu conheci na época da  minha infância e com várias colegas minhas de adolescência que saiam do interior para trabalhar em casa de família nas capitais do próprio Nordeste(Aracaju, Salvador) e São Paulo. E uma vez por ano voltava toda arrumada, toda parecendo uma madame cheia de dinheiro e presente que se acabavam em menos de um mês quando tinha que voltar a vida de empregada doméstica, ou mesmo um pouco antes, quando elas não conseguiam se acostumar a vida de humilhação e escravidão que era trabalhar em casa de família naquela época.
E tudo isso me deixava a morrer de medo do meu futuro de filha de pobre, e ter esse mesmo fim. Felizmente os romances que li, os filmes que vi minha ânsia por aprender coisas novas e questionar as velhas me levaram a outros rumos, rumos diferentes de quase todas as meninas da minha época, e acho que é por isso que especificamente o trecho supracitado do filme me cativou tanto, levando-me a pensar nesses tempos.
Inegavelmente “Que horas ela volta” é um daqueles filmes que mostra de modo direto e ao mesmo tempo sutil a história de vida de cerca de um terço das pessoas que conheço. E mesmo sem diálogos rebuscados, sem discussões aprofundadas leva o público a refletir de maneira direta sobre determinados rumos do povo brasileiro, e refletir sobre os seus próprios rumos. 



 P.S. 
Será ainda possível  pensar em possibilidades dessas no Brasil de hoje?!



quarta-feira, 4 de maio de 2016

“AS PIADAS DE ZIZEK” E A PIADA DO BRASIL




Inevitavelmente temos que concordar com o senso comum quando diz que piadas filosóficas são em sua maioria sem graça e maçante, mesmo não podendo negar que um bom filósofo dá show de filosofia até contando e explicando uma piada horrível e completamente sem graça.
É o caso de Slavoj Zizek no livro “As piadas de Zizek” que entre as inúmeras piadas filosóficas que são apresentadas por ele, todas elas são de fato instrutivas e cumprem bem o seu papel filosófico, no entanto o papel humorístico... Poucas, muito poucas satisfazem esse quesito.  A única que me lembro de majestosamente satisfazer o quesito filosófico e humorístico encontra-se nas primeiras páginas do livro: ‘uma piada vulgar sobre Cristo’, que além de arrancar uma boa risada, leva a pensar imediatamente na piada do Brasil. Principalmente levando em conta os dias correntes, que se vive a piada do ‘gigante acordou’, onde o sujo fala do mau lavado, onde câmera de deputados é transformada em show de entretenimento barato com uma pitada de horror e alguns poucos que querem salvar o que não pode ser salvo, ou curar o que não quer ser curado... Assim como na ‘piada vulgar sobre Cristo’ – que Maria Madalena tenta seduzir Cristo e mostra a sua genital, e Ele a julga como uma ferida e tenta curar, ao passo que Maria Madalena sai apavorada, correndo e gritando.
  Moral da piada – cuidado com as feridas que você quer curar, pois as pessoas que as tem podem gostar de tê-las e não querer curá-las! O que é praticamente o caso do Brasil, a presidenta quis curar a ferida da corrupção que consome o país, e todas as castas que carrega essa ferida saiu correndo e gritando para não serem curados, e apavorados transformou o país inteiro num show pirotécnico de hipocrisia, vergonha, horror... Já que todos querem continuar com suas feridas e de quebra mostrar que quem quer curá-los também tem uma dessas.
E assim sendo, podemos seguir rindo com a piada que é o Brasil e nos instruindo com as piadas filosóficas de Zizek!!!