“Melancolia”,
este é o nome de um dos muitos filmes que assisti ultimamente, e dentre todos
estes foi o que mais me impactou.
Dito de modo sucinto, o filme de Lars Von Trie é uma materialização perfeita
do que de fato deve-se entender por melancolia (deixando á margem o contexto de
ficção científica), deixando bem claro que melancolia não é algo causado por
falta de dinheiro ou excesso dele, como algumas pessoas pensam (inclusive
alguns amigos meus) e não se deve á um fator externo ao ser... Mas a algo
íntimo e quiçá inefável á qualquer outro, devendo-se antes á um terrível
sentimento de frustração de dar-se tanto, de dedicar-se tanto á
determinadas coisa e certas pessoas e aos poucos perceber que nada disso tem á
menor relevância ao que tanto se dedicara que seus cuidados, seus encantos e
esforços não tiveram nenhuma importância, não fizerem o menor sentido. E diante
de tanto chegando a esquecer de que a dedicação as coisa que consideramos
relevantes, o dar-se tanto a outros seres e coisas deve ter importância e
sentido único é exclusivo a si mesmo e nunca ao outro e que a única recompensa
de nossas dedicações, esforços e entregas é a satisfação íntima e pessoal que
teremos com tanto (a filosofia estóica ajuda a entender isso).
Então quando se esquece disso ou mesmo não sabemos disso, nos vemos muito bem
representado pela mocinha do filme “Melancolia” Justine – completamente
estranha ao mundo á nossa volta; sentido um aborrecimento horrível às pessoas á
nossa volta e que mais e mais se estende á tudo que nos cerca, e nos vemos á
todo custo a esconder-se e fugir do mundo, seja atrás das paredes frias do
quarto, ou de grossas cobertas que recobrem camas que mais parecem de espinho e
até mesmo por traz de suores e fluidos do próprio corpo que já não se quer mais
lavar com medo que fiquemos mais vulnerável e desprotegida do terrível mundo
que monstruosamente nos esmaga. Bem como não se sente falta de comer, pois se
sabe que tudo terá gosto de cinzas, das cinzas que á muito já turbaram os olhos
e deixaram á vida sem cor, sem sentido como a música mais triste que o tempo
todo toca bem alto no ouvido.
E fatalmente quando não há uma superação disto, ou melhor, do que
caracterizamos como melancolia, passa-se o desespero dos primeiros arrufos
melancólicos e chega acomodar-se com tudo isso... Acalentando-se com o desejo
íntimo é masoquista que o quanto antes o mundo acabe que tudo exploda, não sobrando
nada, pois tudo é tão mal, tudo é tão sem sentido e nos sentimos tão só no
universo que tudo que queremos é que tudo exploda que tudo se acabe... Assim
como no filme do Lars Von Trier!
Obviamente que existem outras coisas a serem percebidas e ditas sobre o
excelente filme “Melancolia” de Lars Von Trier – que o roteiro é maravilhoso; a
direção é perfeita; o elenco é sublime; a Kirsten Dunste se supera... Em fim,
tudo isso e vários outros aspectos que o mundo inteiro já disse e eu concordo.
E que talvez o que foi dito aqui sobre
“Melancolia” seja só mais uma impressão particular e equivocada de alguém que
se encantou muito com o filme e que achou que além do filme retratar fielmente
a melancolia e dar formas exatas a mesma, também extrai algo muito raro no
espectador – a reflexão.
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